0
Seu carrinho

Entrevista com Akemi Matsuda, a embaixadora Kawaii do Brasil

Resolvi trazer alguns conteúdos do antigo blog para o novo, e o primeiro escolhido foi a entrevista dessa pessoa que é uma verdadeira inspiração e tem um trabalho único aqui no Brasil: a Akemi Matsuda!

A Akemi nasceu aqui no Brasil, mas logo foi para o Japão e viveu lá por muito tempo. Quando ela voltou para cá, aos 19 anos, já havia se formado em balé clássico e, um tempinho depois, se apaixonou pela moda Lolita. Ela acabou se tornando uma grande referência desse estilo no Brasil, difundindo tanto a moda Lolita quanto a cultura japonesa em geral.

Em 2013, a Akemi se tornou a primeira e única embaixadora do Kawaii do Brasil. Isso significa que ela trabalha divulgando a cultura pop japonesa no que ela tem de mais fofa e positiva, para que as pessoas possam compreendê-la melhor (♡°▽°♡). Para minha alegria, ela aceitou ser entrevistada para o blog (mesmo com a agenda super apertada!) e tivemos um bate papo bem gostoso e inspirador! Tive que resumir um pouquinho essa conversa, pois durou cerca de 1 hora, mas a essência está aí e tenho certeza que vocês gostarão muito dessa entrevista! Confira:

♡♡♡

[Awn!] Em primeiro lugar: quem é Akemi Matsuda?
Akemi: Eu tenho o lado apaixonada pela cultura Kawaii, que tem uma presença muito grande na minha vida e, como eu fui criada no Japão, conviver com o Kawaii era como se fosse respirar. No Japão, se você sai na rua tudo é Kawaii, tudo é mais encantador, era algo automático e muito comum para mim. Só que teve essa mudança de vida: é como se a primeira vida eu tivesse construído no Japão, e a segunda vida aqui no Brasil. Foi muito diferente, o que eu achava que era normal, comum, aqui no Brasil não era. Então chegou um ponto em que eu falei “vou transmitir a cultura Kawaii de uma maneira muito mais gostosa e positiva, como uma energia!”. E hoje eu falo que a cultura Kawaii acaba sendo como se fosse um remédio, uma vitamina para cada um.

Outro fator que me fez gostar muito da cultura Kawaii foi o fato de sempre me imaginar morrer como bailarina clássica, mas chegou um ponto em que eu precisei desistir, deixar a sapatilha de ponta e colocar os lacinhos na cabeça. Então, essa paixão que eu sempre tive pelo balé clássico, que era tão grande, mas tão grande que, quando encontrei a moda Lolita, para mim foi uma transferência automática. No balé existe a princesa, a rainha, a camponesa, a fada, as malvadas… eu sempre vivi nesse mundo de ter sweet, dark, uma coisa mais estilosa. Infelizmente, no Brasil, continuar dançando como bailarina tem muito custo, foi muito difícil tomar a decisão de deixar de dançar, chegou uma hora que eu não podia continuar mais. Mas foi uma mudança muito gostosa, não foi triste ou chocante, foi uma transferência da minha paixão pelo balé clássico para a moda Lolita. Então, tanto a cultura Kawaii como a moda Lolita me mostraram uma grande felicidade, e foram importantes para a Akemi Matsuda se tornar a pessoa como eu sou hoje.

Estamos falando muito sobre Kawaii nessa entrevista… então, gostaria de saber como você explica esse termo para quem nunca ouviu falar da expressão.
Para começar, como eu sou professora de língua japonesa, não posso deixar de dizer que Kawaii é adjetivo da língua, e o adjetivo funciona como qualidade e expressão do substantivo. O substantivo seria a vida e o Kawaii é tudo o que você quer expressar, como por exemplo o visual – que é a primeira coisa que choca na cultura Kawaii, já que a vestimenta é muito forte e marcante para as pessoas.

Ao mesmo tempo, para mim, Kawaii é um ato que você transmite de dentro para fora. Vamos voltar para a aula de japonês: Kawaii, que tem como kanji “可愛い”, é o significado verdadeiro de potência do amor e, se você não possui amor, significa que você não vai ter essa FORÇA de sentir o Kawaii. Por exemplo: se você brigou com alguém, ou tomou bronca, você não vai sentir que as coisas estão Kawaii! rs. O Kawaii tem que ter esse sentimento que a gente carrega de amor, é a transmissão da energia positiva. Essa palavra vai bem longe, acaba se tornando algo filosófico mas, resumindo em uma palavra, o Kawaii é o amor, é a possibilidade. Se você tem amor, você já tem o Kawaii.

Você acha que brasileiros e japoneses entendem o Kawaii de forma diferente? Como?
Eu, graças a Deus, tive a oportunidade de conhecer vários países recentemente. Acabei conseguindo viajar, conhecer melhor o mundo, incluindo até o Japão e, para mim, não tem diferença. É uma linguagem universal, unificada, não precisa de fronteiras, divisão, regras! No momento que você sentiu algo que tocou o seu coração, já é o momento de sentir que é Kawaii. Quando eu andei de Lolita em Las Vegas as pessoas paravam e falavam: “Uau! It’s cute! Very pretty! Japanese fashion!”. Claro que Las Vegas ajuda por ser uma cidade cheia de entretenimento, mas eu fiquei muito feliz e a expressão das pessoas deixava claro que elas estavam felizes com o que viam (eu estou falando de moda Lolita, mas não importa, Kawaii é Lolita, é Cosplay, Maid, Anime e Mangá, tudo é Kawaii).

O evento que eu organizo, o Mimi Party, é direcionado para o público infantil até o idoso, e ano passado o subtema era: “O sorriso é o símbolo do agradecimento”. Se você está sorrindo, se está se sentindo bem, esse sorriso se torna a cura de qualquer pessoa. Ver o-jii chan (vovô) e o-baa chan(vovó) andando juntos, as criancinhas felizes com produtos Kawaii, foi uma coisa que não tem preço. Como recolhemos cabelo e brinquedos como doação, vimos quantas pessoas atingimos por causa de um brinquedo ou uma mecha de cabelo… nossa, o sorriso delas foi impecável, esse é o Kawaii verdadeiro, de você sentir amor, um agradecimento através de um sorriso. Eu entendo o Kawaii como uma ação social também, algo mais poderoso do que somente superficial.

Já que estamos falando de ações, como é o seu trabalho como a Embaixadora do Kawaii do Brasil?
Eu fiquei muito feliz com a oportunidade mas, no momento em que eu recebi a notícia eu fiquei muito assustada e senti muita responsabilidade, pois a função não é apenas colocar a faixa de miss e sair dando tchauzinho. É a responsabilidade de ampliar a cultura, então eu pensei bastante se eu tinha essa força e determinação… mas, como tenho esse espírito de professora, eu acabei aceitando! No início, em 2013, eu senti que o objetivo era ampliar a comunidade, fazer com que conhecessem o que é a moda Lolita, como veste, onde compra, como conhecer melhor. Era uma maneira de transmitir conhecimento e fazer o meeting com as Lolitas, mas hoje eu sinto que não precisa disso, eu vejo que muitas pessoas já se organizam e fazem esse tipo de encontro. Então, passei a enxergar minha missão com outros 2 objetivos: o primeiro é fazer com que as pessoas que não conhecem, passem a enxergar essa cultura pop, que é a cultura Kawaii, tanto no Brasil como no mundo todo. Temos um dia a dia estressante, cheio de cobranças, então o Kawaii vem de uma forma gostosa, calorosa, como se alguém te abraçasse forte! Ele traz paz interna, é como se fosse a energia que precisássemos. Queria que a cultura Kawaii chegasse nesse ponto para crianças, adolescentes, que pudesse tirar as crianças da rua com essa ação, mostrar outro tipo de educação através da cultura Kawaii… gostaria de fazer parte disso, sem ter a intenção de virar deputada, vereadora nem nada! rs. Mas explicar o que é o kawaii, como as pessoas podem sentir o Kawaii, fazer mais palestras… porque, se pensar, o Kawaii pode até ser uma terapia! rs.

A outra questão é usar a Mimi Party como se fosse um trilho em que as pessoas podem passar tranquilamente, sem sofrer preconceitos ou restrições, onde elas possam ser felizes e viciassem nisso de uma maneira boa! rs. Como embaixadora Kawaii, gostaria que o Brasil conhecesse cada vez mais essa força, essa paz, esse amor, e o Mimi Party seria um trilho para as pessoas poderem seguir tranquilamente. Porque, graças a Deus, eu nunca passei por preconceito… claro que tem comentários, mas nunca passei por discriminação usando o visual Kawaii. Só que muitas pessoas já sofreram com isso, só porque estavam vestidas de Lolitas outras pessoas mexeram, chamaram com nomes estranhos, também há casos de pessoas que colocam outra roupa de casa até o local do encontro porque os outros julgam. Fiquei sabendo até da questão de perigo de assalto, então queria que o Kawaii se tornasse uma grande força das pessoas, da comunidade, da sociedade, queria que ele se tornasse um caminho para as pessoas seguirem tranquilamente. É uma missão grande, eu não estou pensando pequeno não! rs. Eu quero ver cada vez mais pessoas felizes, sorridentes, eu acho que isso pode melhorar muita coisa. Bom, alguém tem que acreditar, eu acredito nessas palavras e quero seguir, vai ser trabalhoso, eu sei, mas eu quero! rs

E como as pessoas podem adicionar toques Kawaii em seu dia a dia, tanto nas atitudes quanto no visual?
Eu acho que quem gosta do Kawaii sabe o que seguir. Eu imagino que, visualmente, começa com o cabelo! Não importa se é feminino ou masculino, todo mundo dá um valor muito grande ao cabelo. Pode começar fazendo uma trança, colocando um lacinho, uma presilha… os meninos podem começar a passar gel, levantar, mudar de lado! Eu acho que o visual começa no que você tem em casa, não precisa sair comprando loucamente os produtos, basta abrir o armário e pensar “O que eu tenho? O que eu posso fazer diferente que é tema kawaii?” Outra ideia é: cada dia da semana usar um tema, como cor: você pode utilizar na segunda (que é pós final de semana e todo mundo tem que dar um up) uma cor forte como vermelho, azul, roxo, até verde, só pra dar um chacoalhão na semana! rs. Pode pensar: se o tema é vermelho e eu tenho um chaveiro de morango, vou colocá-lo na minha bolsa. Comece com itens que você tem em casa, mas utilizando um tema diário. Não precisa ser cor, pode ser flor, fruta, verdura, qualquer coisa! rs. Nome de cidade, de amigo… só precisam ser temas fofos que te fazem dar um up, que te estimulem o ânimo e o instinto.

Mas a coisa mais importante é o sorriso, se você está sorrindo já é Kawaii! Os japoneses têm vergonha de sorrir, é cultural, eles riem tampando a boca e acaba tirando a graça do sorriso. É uma fisionomia tão legal, e no Brasil as pessoas sabem sorrir muito bem, isso faz muita diferença! É importante demonstrar o seu sorriso, que iguala a felicidade. Claro que vai ter momentos que você não vai estar bem, vai estar de TPM, vai estar mal! rs. Por isso mesmo, se você está mal, tem que pensar: o que vai me fazer sorrir? Sempre tem um tema que você pode criar, uma energia positiva que vem através de um sorriso!

Falando um pouquinho mais de você agora, como você gosta de passar o seu tempo livre?
Meu tempo livre é usado totalmente para aula! Eu tenho um grande prazer em dar aula, eu agradeço meus alunos porque eles fazem parte da minha vida e sou muito agradecida por fazer parte da página da vida de cada um. Gosto muito de dar aula e falar com meus alunos.

Também gosto de arrumar a casa! rs. E, por dar aula ser uma atividade sedentária, no tempo livre também gosto de caminhar por São Paulo, conhecendo as cores da cidade, o ambiente, a energia! Essa energia é muito boa e você consegue identificar caminhando. Quando não posso caminhar, fico em casa mesmo, na esteira, ou assistindo Netflix! rs

Você pode indicar alguma coisa muito “awwnnn!” para os leitores do blog?
Não tenho assistido muitos animes, mas tenho um anime antigo pra indicar: Haikara san ga Tooru! Esse é um anime dos anos 80, que se passa na época Taishō, um período que tem um toque Kawaii muito grande! Desde 100 anos atrás os japoneses já tinham essa vaidade, essa preocupação com o visual. Nessa época houve uma mudança bem grande porque antes eles só usavam kimono, então podemos ver a passagem do kimono para a maneira que vestimos hoje. É bem curioso, e podemos acompanhar também o comportamento feminino, as mulheres ganhando poder sem deixarem de ser apaixonadas e românticas. Não é um anime atual, mas deixo recomendado, vale a pena conhecer!

Fora Rosa de Versalhes e Candy Candy, que são todos cheios de cachos, vestidos, tudo bem do jeito que eu gosto e que mostra a moda Lolita.

Sobre música, Kanojo in the Display é uma banda japonesa que estou viciada há umas duas semanas, tem um toque bem legal, muito bem harmonizado, todos os instrumentos estão bem nítidos, fora o vocal e as letras que são bem bonitas. Eu viciei porque eles fizeram a música de encerramento de Boku ga Inai Matchi, que é um anime que virou um live action, e está na Netflix como Erased.

Também recomendo Kamikaze Girls (Shimotsuma Monogatari), que é um filme que eu já assisti mais de 50 vezes! É a história de duas meninas que são totalmente opostas, uma Lolita e uma motoqueira, mas as duas começam a se entender, ter uma visão diferente sobre a outra por conta da aproximação. Tem comédia, tem um pouco de humor negro até, mas é muito Kawaii e vale a pena! Acho que muita gente se inspirou a ser Lolita depois de ver o filme, porque uma marca de roupas Lolita apoiou o filme, então o vestido ficou bem marcante.

Você poderia deixar uma mensagem final para os leitores do Awn!?
Gostaria de convidar os leitores para conhecer o Mimi Party! Esse ano teremos nossa quinta edição e, cada ano, as pessoas estão entendendo mais como é o Kawaii para si mesmas, que só você pode descobrir no evento. É incrível a energia que as pessoas possuem, é uma harmonização única, que nunca vivenciei em nenhum outro evento. É uma energia que o Kawaii constrói. Então gostaria de convidar todas vocês!

E gostaria de agradecer a oportunidade de te conhecer! Fico grata de nos conhecermos, tomara que seus leitores consigam entender cada vez mais, através da sua paixão pelo Kawaii, esse universo Kawaii que você está transmitindo. Assim a minha missão de transmitir o Kawaii também ganhará uma grande força. Só agradeço, de coração!

posekawaii

♡♡♡

Você pode acompanhar o trabalho da Akemi nos seguintes endereços:

E então, gostaram da entrevista? Vocês imaginavam que a cultura Kawaii era tão ampla e positiva assim? Conte para mim nos comentários <3

Fotos por: Mimix, Juliana Kurihara e Rafael Koga

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *