Quem me conhece há um tempo, sabe que eu tinha um projeto antes da lojinha: o blog Awn! Cute Things. Além do nome ser praticamente o mesmo da loja, o conceito de ambos é o mesmo também (compartilhar tudo o que seja fofo e transmita algo de bom).
O blog havia sido criado, lá em 2015, para suprir a necessidade que eu tinha de exercitar a minha criatividade, mas ele me deu muito mais do que eu imaginava e, principalmente, me fez sentir uma pessoa que eu gostava de ser: uma pessoa mais confortável em si mesma, ainda cheia de defeitos e conflitos, claro, mas que tentava se conectar mais com as pessoas, estava mais atenta à cultura e que parecia estar caminhando para uma vida que “refletisse meus valores e satisfizesse minha alma”. Ótimo, né? Mas, então, por quê… de repente… eu parei?
Em 2018 eu fiz um post dizendo que iria dar uma pausa. Eu escrevi que não tinha mais energia para escrever matérias, visitar outros blogs ou usar as redes sociais, e que pensava que era por conta do trabalho novo, pois minha criatividade estava, enfim, sendo usada no lugar “certo”. Sinceramente, eu só lembro desses pensamentos porque estão registrados nos arquivos que tenho do blog, pois eu não lembro de muita coisa desse período. Só sei que, pouco a pouco, eu fui ficando cada vez mais sem energia para fazer as coisas do cotidiano, até chegar num ponto que eu tive que admitir que aquilo não estava normal, e procurei uma psicóloga.
Eu não consigo alinhar vários fatos em uma ordem cronológica correta mas, lembro que procurar por ajuda de uma profissional foi ótimo, embora tenha sido apenas o começo do que pareceu ser uma longa jornada. Depois de um tempo, fui aconselhada por ela a procurar um psiquiatra também. Eu estava depressiva, e eles acharam que era importante começar o tratamento com algum remédio.
No começo eu não entendia o motivo de estar depressiva, porque tudo parecia perfeito na minha cabeça: todo o pacote da minha vida pessoal estava perfeito, e eu tinha acabado de entrar em um emprego ótimo, minha vida profissional parecia que finalmente ia melhorar. Perguntei pra minha psicóloga: “por que justo agora?”. Então ela devolveu a pergunta: “por que não agora?”. Foi então que eu entendi que, a empatia que eu tento ter com as outras pessoas, não estava sendo aplicada em mim mesma: eu sabia que a depressão é uma doença que nem sempre surge com um gatilho e, quando surge, não dá para apenas desejar que ela vá embora. Eu precisava aceitar que a depressão é uma doença como as outras.
Depois que parei de negar esse fator principal, acho que parei de negar outras coisas também como, por exemplo, que talvez minha vida não estivesse tão perfeita assim. E eu ia da apatia à sentir uma dor tão intensa, uma agonia, um aperto no peito e aquilo me fazia sentir vontade de me machucar e chorar sem parar, tão forte, tão profundo, mas nunca com alívio. Eu não sei como as outras pessoas se sentem quando estão depressivas, mas eu sei que eu só sentia uma dor não localizada que nunca passava, que eu queria gritar para que o mundo soubesse, ao mesmo tempo em que eu tentava esconder de todos. Foram tempos realmente difíceis.
Mas, com paciência e muito apoio, as coisas foram melhorando. Foi uma longa jornada, em que troquei de psiquiatra, testei outros remédios, voltei ao primeiro, comecei a tomar um segundo, tentei me encaixar em religião, me afundar em comida, em série, me divorciei, comecei a fazer atividades físicas todos os dias, parei de tomar anticoncepcional (em outras palavras, parei de inserir tanto hormônio no meu corpo), voltei ao hábito de fazer um diário, saí do esquema formal de emprego. Eu ainda não tenho certeza o que, nesse monte de coisa, realmente me ajudou, só sei que fui melhorando aos poucos. Hoje já não sinto mais dor e até comecei a tirar um dos remédios (com acompanhamento do psiquiatra), embora ainda tenha muito medo de ter recaídas. Mas me sinto muito privilegiada por ter tido condições de procurar ajuda especializada e, principalmente, por ter recebido apoio e acolhimento das pessoas ao meu redor, e sei que a jornada por uma melhor saúde mental será constante na minha vida, mas ela pode ser mais leve agora.
Escrever esse relato foi mais doloroso do que eu imaginava, mas eu precisava fazê-lo por 2 motivos. O primeiro é porque eu sinto que precisamos entender os finais que nos levam a recomeçar. E voltar com a loja + o blog, como um projeto só, é um recomeço que sonhei por muito tempo.
E o segundo é porque eu não escolhi a toa o mês de setembro para lançar o blog. Eu gostaria de dizer, a quem está passando por algo parecido (e até mesmo para mim mesma, se eu vir a passar por isso novamente): por favor, tenha paciência com você. Quando estamos vivenciando a dor parece que ela nunca irá passar, e os pensamentos começam a ser cada vez mais traiçoeiros. Mas períodos ruins não definem nossa vida. Com apoio, com tratamento e, principalmente, com paciência, essa fase irá passar. E o seu eu do futuro terá muito orgulho de você por ter lutado, por ter acreditado. Porque coisas boas também acontecem, e vale a pena esperar o momento de vivê-las.
Imagens do filme “Onde vivem os monstros”
Ahhh Iuiu. Vou sempre te chamar de Iuiu em homenagem aos tempos que nossas preocupações se resumiam a faculdade, escola .. quiçá estágio…
Sei bem da sua dor pois convivo com minhas crises desde meus 12 anos de idade quando ia a vários médicos e me tratavam por fresca, hipocondríaca ou que estava com peripaque pré aborrescente. Nos anos 90 não era comum ou sequer mencionado síndrome do Pânico ou depressão. Eu só fui descobrir o que tinha aos 19 (depois de muito sofrimento pois as crises se intensificaram a tal ponto que eu não tinha força, tinha muitas crises por dia e estava pelo menos 4 x por semana na emergência do hospital…mas era obrigada a me manter de pé pela pressão do meu pai que também não acredita até hoje que é uma doença. Só minha mãe lutava junto a mim).
Só achei um médico que realmente entendia do assunto aos 25. E ele foi bem claro quanto o que a demora no diagnóstico e tratamento acarretaram. De lá pra cá eu já passei muitos altos e baixos, lutei muito..quando perdi minha mãe eu entrei num poço sem fundo por 3 anos…até tentar sair e continuar lutando… sozinha..
Enfim….ainda estou aqui, com o mesmo médico e com uma psicóloga há 3 anos que tem me ajudado muito. Como vc falou: aprender a aceitar e ter paciência de entender que meu tempo não é igual o de ninguém. E quando dizem que tenho problemas ou sou maluca, penso: Tudo bem não ser normal. 😆Pelo menos viva e lutando. E dando mais valor ao caminho que me faz bem e não ao que a sociedade diz que é o caminho correto, da vida “normal”. Saúde mental e espiritual acima de tudo. Fica bem. Ficaremos bem. Conte comigo. Bjins
Desi! Muito obrigada pelas suas palavras, eu acompanho sua luta há tantos anos, embora nesses últimos tempos tenha sido de um jeito mais distante (por culpa minha, eu sei 😕 desculpa). Eu imagino o quanto antigamente doenças mentais eram difíceis de serem diagnosticadas, e o quão difícil deve ser pra você ter que lutar sem o apoio da família. Mas admiro demais a sua força e você disse tudo: o tempo de ninguém é igual, e eu sei que uma hora ou outra as coisas vão ficar mais leves por aí também, porque você já evoluiu muito! Conte sempre comigo também ❤️ super beijo!